CAPÍTULO 6
Um fim para Sophia – Parte 1
Sophia concluiu sua graduação em 2012. No ano
seguinte, ingressou no mestrado e defendeu sua dissertação no início de 2015.
Nesse ano resolveu dar um respiro da vida acadêmica, voltar a ler literatura.
Tolstoi cada vez mais a fascinava, assim como a acidez F. Scott Fitzgerald Virginia Woolf a deixava
apreensiva e agustiada, mas todas as suas passagens e viagens pela literatura
valia a pena, pois a tirava de um lugar confortável. Nas horas vagas, rascunhava
um projeto para doutorado, mas sem se pressionar e sem se levar pela pressão de
seu antigo orientador.
Mas há tempos não estava em lugar confortável. Ela
ainda morava com Márcia, mas algumas definições em sua vida a inquietava.
Namorava há 2 anos e pensavam em morar juntos.
“Será¿ Será que a relação não irá esfriar... ou vamos virar um casal
siamês, sem vida social. Será¿” Seu namorado por outro lado, apesar de também
relatar insegurança, estava muito animado, o que de certa forma a deixava mais
segura.
“Mas nenhuma decisão é definitiva, no mundo das relações afetivas”.
Dizia isso para si mesma, talvez para um conforto psíquico.
De qualquer forma teria que mudar de casa, Márcia vai se mudar. Outro
ciclo se fechando. Sua relação de amizade com Márcia é mais longa do que
qualquer uma na sua vida. Não mais longa do que com seus pais, evidentemente,
mas estava pensando nas relações voluntárias, aquelas que escolhemos para
nossas vidas... se afastar dela ia ser difícil.
Ao ir morar com o namorado, todos a olhavam como “a casada”, o que em si
não é um problema, mas era como se isso a desvalorizava como mulher
independente. Então, se você não namora é porque ninguém te quer, se namora é
porque é insegura, se vai morar com o namorado é porque não banca levar uma
vida de independente de alguém, se mora sozinha e não quer morar com nenhum
namorado é porque na verdade são seus namorados que não quiseram morar com
você.
Estava com raiva de tudo e de todos por pensarem assim. Mas todos pensam
assim ou eram questionamentos seus também¿ Estava com raiva dos outros ou de si
por sua insegurança¿
A decisão estava tomada e as mudanças aconteceriam. Não deveria se
sentir culpada por estar com dúvidas, de qualquer forma, “é melhor o por vir
ser novo do que a ter as mesmas roupas velhas”.